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“
(...). A agitação que apenas um instante provocou em Anne foi quase
inexprimível. A carta, endereçada, em uma letra quase ilegível, a “senhorita A.
E.”, era obviamente a que ele dobrara com tanta pressa. Enquanto estava,
supostamente, a escrever ao capitão Benwick, ele escrevera-lhe também a ela.
Tudo o que o mundo podia fazer por ela dependia do conteúdo daquela carta! Tudo
era possível, e era preferível desafiar tudo a continuar na expectativa. A
senhora Musgrove tinha algumas coisas a preparar na mesa; ela devia confiar na
sua proteção e, deixando-se cair na cadeira que ele ocupara, sucedeu-lhe no
mesmo lugar onde se debruçara a escrever, e os seus olhos devoraram as
seguintes palavras:
“Já
não consigo mais permanecer em silêncio. Tenho de lhe falar pelos meios ao meu
alcance. Anne trespassa-me a alma. Sinto-me entre a agonia e a esperança. Não
me diga que é muito tarde, que sentimentos tão preciosos morreram para sempre.
Declaro-me novamente a si com um coração que é ainda mais seu do que quando o
despedaçou há oito anos e meio. Não diga que o homem esquece mais depressa que
a mulher, que o amor dele morre mais cedo. Eu não amei ninguém se não a si.
Posso ter sido injusto, posso ter sido fraco e rancoroso, mas nunca
inconstante. Vim a Bath unicamente por sua causa. Os meus pensamentos e planos
são todos para si. Não reparou nisso? Não se apercebeu dos meus desejos? Se eu
tivesse conseguido ler os seus sentimentos, como creio que deve ter decifrado
os meus, não teria esperado estes dez dias. Mal consigo escrever. A todo
momento ouço algo que me emociona. Anne baixa a voz, mas eu consigo ouvir os
tons dessa voz, mesmo quando os outros não conseguem. Criatura muito boa, muito
pura! Faz-nos, de fato, justiça, ao acreditar que os homens são capazes de um
verdadeiro afeto e uma verdadeira constância. Creia que esta é fervorosa e
firme em F. W.”
“Tenho
de ir, inseguro quanto ao meu futuro; mas voltarei, ou seguirei o seu grupo,
logo que possível. Uma palavra, um olhar será o suficiente para decidir se irei
a casa do seu pai esta noite, ou nunca”.
Depois
da leitura dessa carta, era impossível recompor-se rapidamente. Ao fim de meia
hora de solidão e meditação, talvez se tivesse sentido mais calma; mas os dez
minutos que decorreram até ser interrompida, juntamente com a necessidade de se
conter, não podiam ser suficientes para a acalmar. Pelo contrário, cada momento
trazia uma nova onda de agitação. Era uma felicidade esmagadora. E, antes de
ter ultrapassado a primeira fase de intensa emoção, chegaram Charles, Mary e
Henrietta. (...)”; ( AUSTEN, Jane.
Persuasão. Cap. 23, pp. 198-199).
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ângela frança de brito. salvador-bahia-brasil. 26/11/2016