leiam na página, "hora do conto":
será sur-pre-en-den-te!
"ABASS, 26
de julho de 1997.
“O despertar e o vento. Um forte sopro de vento encheu todo
meu corpo.
Despertei com os olhos arregalados,
pelo esforço de acordar, vislumbrei o teto e paredes brancas de hospital. Meu
primeiro desejo foi levantar-me da cama, mas os fios atados ao meu corpo
impediram-me, o que me fez chamar as enfermeiras durante um longo tempo, sem
que elas viessem.
Convencida de que ninguém atenderia
meus apelos, acomodei-me à situação e esperei paciente. A calma me permitiu
sentir melhor o meu corpo, percebi que não me sentia doente, estava livre da
dor, então me levantei e remexi as gavetas de um pequeno armário procurando as
roupas, como não as encontrei, parei uns instantes, daí notei que estava
vestida normalmente. Apesar de não saber o quê estava acontecendo, saí do
quarto, atravessei os longos corredores sem que as pessoas ao redor se dessem
conta de minha presença, como se estivessem ocupadas demais para atentarem
sobre alguém que andava macio, quase a pairar acima do piso e da balbúrdia, que
ocorria durante a chegada de novos pacientes socorridos com urgência. Tanto
sangue! Já na rua, deparei com uma perturbadora verdade, não conseguia lembrar
onde era minha casa...
As ruas cheias de gente pareciam
conhecidas, aliás, as ruas atualmente teimam em querer se assemelhar. Fiquei
recostada em um poste observando o trânsito, as pessoas, todas passaram por
mim, chocavam-se em meus ombros, porém, sequer pronunciavam uma desculpa, ou
até mesmo me xingavam. Parecia até mesmo que eu estava invisível.
A
tarde se foi, a noite se fez, ainda permanecia encostada no mesmo poste, vendo
passar as pessoas, movidas pelo desejo de voltarem para casa. Elas passavam por
mim apressadas. Fiquei ali, olhando-as. Quase interminantemente passava gente,
passava carro, passava carro. O vento passou soprando frio e me avisou que os (...)" ângela frança de brito. ssa-ba, 06/03/2014