o escritor gabriel garcia marquez nasceu na colômbia em 1928, ganhou o prêmio nobel de literatura em 1982. o fragmento de seu labor literário mais conhecido do público consta abaixo, com o endereço para baixar em pdf, e ler sobre as venturas e desventuras da família buendia. literatura fantástica permeada por paisagens e personagens inspirados em lugares, pelos quais garcia marquez passou, e pessoas as quais conheceu. afinal, não é isto que faz parte do ofício de quem escreve? por meio das palavras, transformar os lugares e pessoas velhas em coisas novas? tornou-se eterno gabriel garcia marquez, em abril de 2014.
o escritor gabriel garcia marquez nasceu na colômbia em 1928, ganhou o prêmio nobel de literatura em 1982. o fragmento de seu labor literário mais conhecido do público consta abaixo, com o endereço para baixar em pdf, e ler sobre as venturas e desventuras da família buendia. literatura fantástica permeada por paisagens e personagens inspirados em lugares, pelos quais garcia marquez passou, e pessoas as quais conheceu. afinal, não é isto que faz parte do ofício de quem escreve? por meio das palavras, transformar os lugares e pessoas velhas em coisas novas? tornou-se eterno gabriel garcia marquez, em abril de 2014.
fonte: google |
(fragmento)
"MUITOS anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano
Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o
gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à
margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras
polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que
muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.
Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua
tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores,dava a conhecer
os novos inventos. Primeiro trouxeram o imã. Um cigano corpulento, de barba rude e
mãos de pardal,
* que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta
demonstração pública daquilo que ele mesmo chamava de a oitava maravilha dos
sábios alquimistas da Macedônia. Foi de casa em casa arrastando dois lingotes
metálicos, e todo o mundo se espantou ao ver que os caldeirões, os tachos, as tenazes e
os fogareiros caíam do lugar, e as madeiras estalavam com o desespero dos pregos e dos
parafusos tentando se desencravar, e até os objetos perdidos há muito tempo
apareciam onde mais tinham sido procurados, e se arrastavam em debandada
turbulenta atrás dos ferros mágicos de Melquíades. “As coisas têm vida própria”,
apregoava o cigano com áspero sotaque, “tudo é questão de despertar a sua alma.” José
Arcadio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da
natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível se servir
daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra. Melquíades, que era um
homem honrado, preveniu-o: “Para isso não serve.” Mas José Arcadio Buendía não
acreditava, naquele tempo, na honradez dos ciganos de modo que trocou o seu
jumento e um rebanho de cabritos pelos dois lingotes imantados. Úrsula Iguaráni sua
mulher, a que contava com aqueles animais para aumentar o raquítico patrimônio
doméstico, não conseguiu dissuadi-lo. “Muito em breve vamos ter ouro de sobra para
assoalhar a casa”, respondeu o marido. Durante vários meses empenhou-se em
demonstrar o acerto das suas conjeturas. Explorou palmo a palmo a região, inclusive o
fundo do rio, arrastando os dois lingotes de ferro e recitando em voz alta o conjuro de
Melquíades. A única coisa que conseguiu desenterrar foi uma armadura do século XV,
com todas as suas partes soldadas por uma camada de óxido, cujo interior tinha a
ressonância oca de uma enorme cabaça cheia de pedras. Quando José Arcadio Buendía
e os quatro homens da sua expedição conseguiram desarticular a armadura,
encontraram um esqueleto calcificado que trazia pendurado no pescoço um relicário
de cobre com um cacho de cabelo de mulher. Em março os ciganos voltaram. Desta
vez traziam um óculos ao alcance e uma lupa do tamanho de um tambor, que exibiram
como a última descoberta dos judeus de Amsterdam. Sentaram uma cigana num
extremo da aldeia e instalaram o óculo de alcance na entrada da tenda. Mediante o
pagamento cinco reais, o povo se aproximava do óculo e via a cigana ao alcance da
mão. “A ciência eliminou as distâncias”, apregoava Melquíades. “Dentro em pouco o
homem poderá ver acontece em qualquer lugar da terra, sem sair de sua casa.“ Num
meio-dia ardente, fizeram uma assombrosa demonstração com a lupa gigantesca:
puseram um montão de seco na metade da rua e atearam fogo nele pela concentração
(...)". fonte:
ângela frança de brito. ssa-ba, 19/04/2014