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NINGUÉM
TEM COMPAIXÃO DO PEIXE
Ou,
a Sexta-Feira Santa do Terror
Por: Ângela França de Brito
O mar estava revoltado. Não
“revolto”. Estava mesmo revoltado, pois atiçava suas ondas com mais de um metro
e meio sobre os frágeis abrigos de ônibus envidraçados. Mas, bem feito para
estes abrigos! Eram umas porcarias impostas à Cidade de Salvador por uma
empresa estrangeira escrota, “escrotamente” aceita por políticos desonestos.
As águas, ora azuis, ora
esverdeadas, ora transparentes do litoral soteropolitano, no outono, vestia-se
de cinza. Com tons que iam do mais escuro e denso, de nuvens gordas e
falsamente pesadas, até os mais esbranquiçados e esvaídos em nuvens semelhantes
a vapores, que passeavam, a passos apressados e retos, pelos céus da Cidade.
Por toda Avenida Oceânica, da Barra
até Ondina, os ventos sopravam com furor. E, não é que no bairro de Ondina,
justamente junto à praia de Ondina, tinha alguns desses pontos de ônibus
inadequados e com vidros baratos?! Os ventos atrevidos da Costa de São Salvador
não os perdoaram, e, naquela quarta-feira arrasou-os completamente.
Destruiu-os, sem dó, espalhando cacos por sobre os fracos e feios bancos. Elementos
urbanos com desenho realmente nojento! Aqueles bancos! Mas, o mais
interessante, na quarta-feira, que precedia a tradicional sexta-feira cristã,
eram os acontecimentos contraditórios que permeavam a Cidade...
Nesta rua, nesta rua, que era da
Cidade, e vivia cheia de gentes, de diferentes lugares do Brasil e do Mundo.
Vivia cheia de carros e de movimentos, de estudantes que iam e viam das escolas
e faculdades; dos trabalhos, e dos passeios; diversão nas praias da redondeza,
e dos parques; das lojas, e da já tradicional visitação às enormes estátuas das
“Meninas do Brasil”. As Gordas, que viciaram as pessoas nativas, e já as de
fora, com sua rechonchudez contraditoriamente leve, pois, as três Moças, que
representavam as raças formadoras do Povo Brasileiro: a Índia; a Africana; a
Europeia eram simplesmente belas; eram graciosas com seus movimentos inusitados
e poses sensuais. As Três Gordas eram gostosas e acolhedoras. Quem chegava
perto para admirá-las, tinha dificuldade em não abraça-las, fazendo as vezes de
crianças carentes de afeto. Pois, esta rua, cheia de vida estava vazia... dava
para andar no meio dela, pois os automóveis eram escassos. Estava tudo fechado,
como se a Cidade de Salvador fosse uma cidade fantasma.
ângela frança de brito. ssa-ba, 30/04/2014